Ao longo da vida vamos desenvolvendo papéis, vestindo diferentes máscaras que nos ajudam a viver socialmente. Essa máscara que vestimos para lidar com o outro é a nossa persona. Assim, a persona, denominada por Jung inspirado na máscara utilizada pelo ator no teatro romano, consiste na pessoa que passamos a ser como fruto dos processos de aculturação, educação e adaptação aos nossos meios físico e social.
Quis fazer essa breve introdução sobre persona e máscaras, pois foram conceitos que permearam um ensaio Alma do Fazer muito desafiador e que ao mesmo tempo me deixou muito animada. Desafiador pois seriam retratos de um fotógrafO, homem, que não gosta muito de aparecer na frente das lentes, o que de certa forma é bem comum entre fotógrafos. Esse ensaio foi dado de presente pela esposa, o que também consistiu em um desafio, pois não foi uma vontade que surgiu da pessoa que seria fotografada.
Quando faço retratos de empreendedores, gosto de explorar aquilo que faz parte de seu cotidiano, de sua história. Quem é a pessoa que está por trás daquele fazer? Do que ela gosta? Com o que se inspira? O que alimenta sua alma? Falo um pouco mais sobre o ensaio Alma do Fazer nesse post.
Feita essa ambientação, Niklas me disse que queria fazer uma sessão mostrando algumas de suas máscaras, se alinhando demais com o coração do projeto. Eu vi o fotógrafo, mas vi também o corredor, o marido, o pai e até mesmo o palhaço. Com essas ideias em mente, o que inicialmente se apresentou a mim como um desafio, foi fluindo de forma muito leve e divertida.
Representar as máscaras e vê-las materializadas em fotografias pode enriquecer não somente o conteúdo digital de uma marca ou projeto, mas também o próprio processo de autoconhecimento, importante pra tudo o que vamos fazer na vida, inclusive empreender.
Melhor do que escrever o meu relato é trazer as palavras do próprio Niklas após passar pela experiência de estar do outro lado da câmera e de receber as fotografias.
“Como fotógrafo, e acostumado a estar por trás da câmera, a experiência que a Ana Paula proporcionou foi algo bastante diferente para mim. Primeiramente, por que me colocou no outro lado da câmera; um lugar que para mim não é dos mais confortáveis.
Porém, sendo que tinha recebido o ensaio com a Ana Paula de presente (da minha esposa), quis aproveitar e fazer o máximo da experiência. E sendo que eu acredito profundamente no poder que a fotografia tem, foi com muita curiosidade que eu me coloquei em frente da lente, para experimentar o que eu mesmo busco entregar aos meus clientes; uma experiência que vai muito além das imagens em si.
Eu vejo a fotografia como um processo de comunicação; um diálogo entre quem fotografa e quem é fotografada e delas com elas mesmas. Para mim, é neste processo, no encontro entre almas, emoções, criatividade e imagens, que a mágica acontece e que o verdadeiro poder da fotografia se revela. Ana Paula então me trouxe a oportunidade de viver esta magia de forma diferente, sendo eu o objeto dos registros.
Através da sua sensibilidade, conhecimento técnico e criatividade, Ana Paula transforma a fotografia em poesia. Além disso, gostei muito da forma que a ela conduziu o trabalho, por meio de uma abordagem participativa e empática. Desta forma, e por meio do nosso diálogo (tanto antes quanto durante o ensaio) se abriu um espaço, de forma muito natural, onde a fotografia da Ana Paula se encontrou com algo pessoal e profundo meu, que por sua vez se manifestou por meio das várias personas fotografadas, assim como nos seus olhares e nas suas posturas.
O resultado foi realmente impressionante, não somente pela qualidade das fotos, mas pelo que os clicks da Ana Paula conseguiram capturar e comunicar. Para mim, estas fotos trazem histórias que precisavam ser contadas, por mim, para mim. Histórias minhas, muitas delas ignoradas, esquecidas ou escondidas. O trabalho da Ana Paula fez com que eu conseguisse olhar para algumas destas histórias com mais clareza, e nelas ver o(s) “eu(s)” que habita(m) em mim.
Percebi mais cabelos brancos do que eu tinha visto no espelho. Também vi rugas e outros elementos físicos que me lembraram do fato de que o tempo está passando e que o meu corpo está envelhecendo. Mas eu também vi o menino que continua aqui dentro, um menino que já está sendo ignorado há muito tempo e que precisa e merece a minha atenção. Este menino já vem chamando atenção faz tempo, e me parece que por meio destas fotos ele chegou a ter ainda mais voz.
Então, se eu já antes desta experiência acreditava no poder que a fotografia tem, agora eu tenho certeza absoluta!
Obrigado, Ana Paula, pela experiência e pelas belas fotos!”
Niklas Stephan, fotógrafo, artista, corredor, pai, marido, escritor, palhaço, entre tantas outras máscaras que o habitam.
Com vocês, algumas das fotos.
Agradecimento especial à Isa que comprou a ideia e ao Niklas que embarcou na sessão de coração aberto.
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