Fotografia: Juliana Caribé
Depois do susto que foi 2020, eu tinha esperanças para 2021, especialmente com relação ao fim da pandemia. O que vimos foi o contrário. O agravamento da pandemia, a economia despencando, um número absurdo de mortes, um governo totalmente despreparado (sim, estou pegando leve no adjetivo), pessoas negando a ciência, preços subindo, bares cheios, novas variantes. Parecia que 2020 ainda não tinha acabado. Deu medo, deu desânimo, deu desespero. Deu vontade de entrar em um buraco e esperar tudo passar. Só que não dá pra fazer isso e precisei arrumar um jeito de enfrentar a tempestade da melhor forma possível.
No meio desse atropelo, muitas coisas boas aconteceram também, pelas quais sou muito grata. Atravessamos o ano bem, com saúde, vacinados, trabalhando. Resgatei fotografias no rolo da câmera do celular e pude ver quantos momentos bons tivemos durante o ano. Sempre que faço isso percebo a grandiosidade da fotografia que nos socorre quando a memória falha.
No início do ano eu estava acelerada na produção de conteúdo para mídias sociais até que pifei. Na corrida insana de tentar agradar o algoritmo, a saúde mental vai pro saco. Conto mais sobre isso nesse post. Precisei pausar algumas atividades, olhar para dentro dos meus processos, tanto pessoais como profissionais, para então tomar novos rumos. Fiz cursos e mentorias incríveis com mulheres maravilhosas que me ajudaram a me conectar com meu feminino, a buscar o equilíbrio entre os polos masculino e feminino, a entender que sou cíclica e que minha produtividade também é.
O terreno estava fértil para o plantio de um projeto que estava parado e que eu pretendia retomar quando estivesse mais maturidade para entender o seu lugar no mundo: Alma Nua, meu projeto de ensaios femininos terapêuticos. Mergulhei nesse universo no intuito de oferecer às mulheres um espaço seguro para que pudessem ser elas mesmas e, por meio das imagens, pudessem se conhecer melhor. Aprendo muito com cada mulher que fotografo, inclusive sobre mim mesma. Tem sido lindo!
Em paralelo, atendi outro chamado e iniciei a especialização em Arteterapia. Retomei o contato com a psicologia junguiana, uma das bases teóricas da arteterapia. Me entreguei aos encantos de diversos materiais artísticos, observando o que cada um deles me causa. Experimentei, pintei, desenhei, fotografei. A sensação que tenho, agora já partindo para a preparação para meu estágio, é que estou ligando os pontos de uma vida inteira, com mais clareza e maturidade.
Apesar de todo o contexto trágico e desfavorável que ainda estamos atravessando, busquei beleza no meu mundinho para poder passar por essa tempestade. Na verdade, essa é a minha missão enquanto fotógrafa… buscar a beleza, mesmo onde ela não seja assim tão óbvia. Ver o extraordinário no ordinário.
Aproveito esse clima de início de novo ciclo, sob a lua nova, para plantar as sementes que quero ver crescer. Cuido da minha terra, escolho as minhas sementes para plantar, regar e colocar luz na hora certa. Uma delas é dar continuidade aos ensaios femininos com arte, conceito e espaço para expressão, sendo portais para o autoconhecimento. Cada dia me sinto mais conectada com esse projeto, como um caminho de transformação para mim e para as mulheres que cruzam meu caminho.
Veja esse ensaio completo aqui
A minha atuação como arteterapeuta também é uma semente linda que quero ver florescer e dar frutos, por meio de grupos, oficinas e, quem sabe, atendimentos individuais. Quando penso nisso, meu coração bate forte. Talvez essa seja uma boa bússola.
Na fotografia de família, quero regar os ensaios documentais que me fazem tanto sentido, me mostrando um dos maiores motivos para ter escolhido a fotografia como instrumento de trabalho e conexão com o mundo. Por fim, e não menos importante, no meu trato comigo mesma quero ver crescer a autocompaixão, pois tenho sido muito dura com meus processos. Vocês ainda vão me ver falar muito sobre isso por onde eu passar.
Claro que não temos o menor controle nem previsão do que vai acontecer, e 2020 está aí para nos escancarar isso, mas começo esse ano cheia de planos, expectativas e sonhos, inclusive o de mudança de governo e esperança por tempos melhores. Enquanto isso, vamos nos cuidando, no físico e no emocional, vivendo um dia de cada vez.
2022 pode chegar, mas venha de leve, de mansinho. Seja gentil.
Com amor,
Ana
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